Al Gore vê Brasil como modelo de financiamento verde e critica postura de Trump

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Ex-vice-presidente dos EUA elogia papel do BNDES na transição energética e afirma que a democracia americana vai resistir ao governo de Donald Trump

Aloizio Mercadante e Al Gore
Aloizio Mercadante e Al Gore (Foto: André Telles/BNDES Divulgação)
247 – O ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista ambiental Al Gore afirmou que o Brasil tem um papel estratégico na transição energética global e pode servir de modelo para países em desenvolvimento ao adotar mecanismos de financiamento inovadores para projetos de energia limpa. A declaração foi feita em entrevista à Folha de S. Paulo, durante passagem pelo Rio de Janeiro, onde Gore promoveu um curso gratuito de treinamento de lideranças climáticas.

O BNDES mitigou os riscos de investimentos em energia renovável. Esse é o tipo de modelo que pode funcionar para outros países”, destacou Gore, ao falar sobre as soluções brasileiras que podem ser replicadas em nações africanas e latino-americanas. Segundo ele, esse será um dos principais temas da COP30, conferência climática da ONU que ocorrerá em novembro, em Belém, e da qual confirma presença.

Otimismo cauteloso com a transição energética

Al Gore, que ganhou projeção mundial com o documentário Uma Verdade Inconveniente (2006) — premiado com o Oscar e considerado um marco no debate climático —, disse que, apesar do agravamento da crise ambiental nas últimas duas décadas, há sinais de avanço.

“No ano passado, 93% de toda a nova geração de eletricidade instalada no mundo era renovável. Mais de 50% das motocicletas já são elétricas e 20% de todos os automóveis vendidos também. Na China, mais da metade já é elétrica. Estamos vendo também aço verde, agricultura regenerativa e floresta sustentável. Isso mostra que há um caminho em direção a soluções”, afirmou.

Ainda assim, ele reconhece que os desafios permanecem, sobretudo devido ao lobby das petroleiras e às dificuldades de financiamento em países em desenvolvimento. “O real desafio é que países de baixa renda pagam três vezes mais juros para acessar o capital privado. É por isso que modelos híbridos, como o do Brasil, são tão importantes.”

Críticas a Donald Trump e defesa da democracia americana

Questionado sobre os retrocessos ambientais nos Estados Unidos após a volta de Donald Trump à presidência, Gore foi categórico: “Temos apenas mais três anos e meio deste tipo de visão pseudoautoritária de governo. Eu acho que a democracia dos EUA é mais resiliente do que muitas pessoas temem”.

Ele também criticou o fenômeno que chamou de green hushing, em que empresas continuam investindo em sustentabilidade, mas evitam divulgar suas ações para não confrontar Trump. “Trump não deveria ter tanto poder como tem, mas ele controla o Congresso agora. Isso não pode durar até as eleições legislativas de 2026.”

Gore ainda comentou a política externa de Trump, especialmente o aumento de tarifas sobre produtos brasileiros: “Nós passaremos por Donald Trump. A relação entre os povos dos EUA e do Brasil continuará forte. O Brasil não vai ceder, tenho certeza disso. O presidente Lula foi claro: Trump não é imperador do mundo.”

Sobre a conferência climática que o Brasil sediará, Gore disse acreditar que o encontro pode marcar um avanço decisivo na busca por mecanismos financeiros que ampliem o acesso a capital para países pobres e emergentes. “A África tem 60% do melhor recurso solar do mundo, mas menos de 2% do capital para energia limpa. O continente inteiro tem menos painéis solares do que o estado da Flórida. Isso precisa mudar”, observou.

Ele também ressaltou a contradição brasileira ao tentar liderar a transição energética enquanto busca explorar petróleo na Margem Equatorial. “Como ambientalista, fico preocupado ao ver qualquer país expandindo fósseis. Mas não significa que estamos destinados a falhar. A energia renovável está avançando mais rápido do que a adição de combustíveis fósseis.”

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