Por Maurício de Novais Reis*
Ainda na juventude, Sigmund Freud demonstrou imenso talento para as questões de caráter científico, filosófico e literário. Estudioso, realizou uma pesquisa cujo objetivo era investigar o sistema nervoso das enguias, especificamente a respeito da estrutura dos órgãos sexuais desses peixes. Essa pesquisa demonstrou também outro talento fundamental do jovem Freud: a inquietação frente à organização psicossexual dos seres humanos, obsessão que contribuiu incontestavelmente para a criação da psicanálise enquanto método de psicoterapia acerca da etiologia dos sintomas neuróticos.
No início de sua clínica, Freud recorreu à hipnose na tentativa de aliviar o sofrimento de seus pacientes neuróticos. Lucas Nápoli define dessa forma a metodologia terapêutica hipnótica: “O médico hipnotizava o doente, deixando-o numa espécie de estado sonambúlico. Durante esse estado, o médico dizia ao paciente que ele não possuía o sintoma do qual se queixava. Ao restabelecer-se do estado hipnótico, o paciente não mais apresentava o sintoma. A concepção que sustentava tal prática era a de que os sintomas histéricos eram devidos a “ideias dominantes” que “possuíam” o espírito do doente. Assim, a função do médico era a de apresentar ao paciente ideias que suplantassem o poder das “ideias dominantes” patogênicas de forma a neutralizar o efeito das mesmas.”
Todavia, percebendo que os resultados alcançados através do método hipnótico mostravam-se indubitavelmente frágeis, transitórios e insuficientes para o tratamento das neuroses, inclusive devido à existência de uma resistência no paciente (que é uma espécie de apego que o paciente inconscientemente possui pelo sintoma que provoca seu sofrimento), Freud decidiu utilizar-se de um método diferente, o qual denominou de regra fundamental do método psicanalítico: a associação livre.
O que é associação livre? E por que é considerada uma regra fundamental para a clínica psicanalítica? O psicanalista Lucas Nápoli mais uma vez explica: “Entendendo que a resistência é um fenômeno advindo do eu da pessoa que olha para si mesma e emite um juízo de que determinadas representações não devem vir para o plano da consciência, logo, a melhor estratégia para conseguir ao mesmo tempo driblar e entender a resistência é solicitar ao paciente que tente ao máximo deixar de lado essa função egoica de julgar as representações que vêm ao campo de consciência. Em outras palavras, pedir a ele que diga tudo o que lhe vier à cabeça. É o que Freud chamou de “associação livre”, mas que do original alemão poderia ser mais bem traduzido como “intrusão livre”, pois a ideia é justamente a de que o paciente não associe, mas que permita a entrada livre em sua consciência das representações que lhe surgirem.”
Nesta perspectiva, o método psicanalítico utiliza-se do discurso do paciente a fim de “captar os sinais do inconsciente”, uma vez que este se encontra em constante pulsação, forçando a porta da consciência por onde passam os desejos.
*Maurício de Novais Reis, Agente Municipal de Desenvolvimento de Itanhém/BA; professor de sociologia do Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa e especialista em Teoria Psicanalítica/FACEL.