A palavra a serviço da justiça, com a história dos vencidos, por Almir Zarfeg

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A palavra a serviço da justiça, com a história dos vencidos, por Almir Zarfeg
Luiz Otávio Oliani, em sua biblioteca, lendo “Homem-gato, homem-feito” – Fotos: acervo pessoal

Por Luiz Otávio Oliani

“(…) a Pituba se apresenta como um lugar especialíssimo para todos, moradores, frequentadores e visitantes”, página 105

Há tempos a História passou a ser contada através do prisma dos vencidos; o que contraria a tese dos vencedores, segundo a qual somente os que têm poder político narram os fatos de acordo com as próprias conveniências.

Em “Homem-gato, homem-feito”, ficção de Almir Zarfeg, São Paulo, UICLAP, 2024, uma nova visão do fenômeno histórico comparece às páginas do livro para apresentar o que poucos conhecem.

A epígrafe de Ramiro Guedes da Luz, logo na primeira página do livro, deixa o leitor estatelado, quando cita que “(…) a memória da infâmia não pode ser escondida embaixo da latrina da história cobrada pelos dominadores”.

No prólogo, que é um prefácio escrito pelo próprio autor, Almir Zarfeg antecipa o tema do livro.

Trata-se de obra documental que registra um caso de impunidade ocorrido com o desaparecimento do jornalista Ivan Rocha, em 22 de abril de 1991, antes de ele entregar um dossiê completo com nomes de policiais supostamente envolvidos com grupos de extermínio. A autoridade judicial, o desembargador que receberia os documentos, visitaria Teixeira de Freitas, no extremo sul da Bahia, todavia os papéis nunca lhe chegaram às mãos.

O desaparecimento misterioso e a morte de Ivan nunca tiveram solução. Polícia Civil, Ministério Público, ausência do corpo (o que contraria a materialidade do delito), a identificação dos prováveis assassinos, a fragilidade das provas processuais e a maldita prescrição selaram de vez qualquer chance de justiça ao caso.
A inspiração para o título do livro está no jornalista William e no felino Romeu. Tanto o homem quanto o gato se metamorfosearam, a ponto de frequentarem locais onde houvesse qualquer indício ou pista do desaparecimento do saudoso radialista.

A palavra a serviço da justiça, com a história dos vencidos, por Almir Zarfeg
O poeta e escritor Luiz Otávio Oliani com exemplar de “Homem-gato, homem-feito”, de Almir Zarfeg

A obra tem um traço policialesco, ao mostrar um passeio sobre os locais pelos quais os protagonistas trafegaram em busca da verdade real. Da famosa Rua da Pituba, no bairro da Bela Vista, o John Black Barbershop, o Center Cópias TX, o Bar do Braz, a boate Batuque Texas, número 42, alguns espaços foram citados.

Perto da Manas Arte, nº 258, um “edifício abandonado de esquina” poderia trazer indícios à investigação, todavia “aquele prédio abandonado em plena Rua da Pituba e erguido na capital teixeirense”, páginas 52-53, mostrou apenas o dinheiro mal investido pelas autoridades públicas e ausência de vestígios necessários à solução do caso.

A tentativa de mergulhar nas águas do Rio Itanhaém representava a sanha da busca pelo tesouro, quer dizer, os restos mortais do jornalista cujo corpo desaparecera misteriosamente.

Por fim, o livro de Almir Zarfeg é uma obra de denúncia social de extrema relevância. Tanto que se tornou finalista do 1º Prêmio Laurel Verbum Literatura de Entretenimento, na edição de 2025, razão pela qual merece mais divulgação.

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LUIZ OTÁVIO OLIANI é professor e escritor. Atual Diretor de Comunicação Social da Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro (APPERJ). Com intensa produção intelectual, publicou 23 livros, incluindo poesia, conto, crônica, teatro, literatura infantil, crítica literária e ensaios. Em 2024, publicou, pela Editora Penalux, “Vozes, discursos e papiros: alguma crítica”. Fonte: Por Luiz Otávio Oliani

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