Ao tomar posse como primeiro Prefeito de Teixeira de Freitas, Temóteo encontrou a novel cidade arrasada, até lâmpadas das repartições foram surrupiadas em represália eleitoral de Alcobaça devida. Edmar Cantão ofereceu seu escritório para a instalação do município e o povo entregou quase mil vassouras e novecentos carrinhos de mãos, para a limpeza ser procedida. Sem contar que todas as carteiras escolares foram levadas para fora da cidade. Naquela ocasião Teixeira tinha poucos habitantes e receita insignificante, sobretudo por causa de seu nascimento. Hoje com mais de duzentos mil habitantes (mentiras estatísticas fora), mais de cem mil eleitores, nada (navega, singra) em recursos oriundos de todos os recantos, (se o Maranhão enriqueceu, por que não Teixeira?) para todas as finalidades. No passado, houve um programa humorístico de televisão, onde uma personagem americana, muito ingênua, considerava os brasileiros “muito bonzinhos”, mesmo depois de ser ludibriada. Chico Anysio caracterizou um dos seus muitos personagens como pastor protestante, que “passava a sacolinha”, recolhendo donativos. Em maio de 1968 houve a revolta dos estudantes franceses que foi considerada um momento sem precedentes na história mundial, como “a maior greve da história” e um levante mundial simultâneo com o qual revolucionários sonhavam desde a Revolução Russa de 1917. Aqui no Brasil, numa crônica daquele mês, o genial Nelson Rodrigues narra como percebeu a falta de motivo da revolta durante um jogo de futebol: “No intervalo de Fluminense x Madureira, um “pó de arroz”, muito aflito, veio me perguntar: “Afinal, por que é que estão brigando na França? O que é que os estudantes querem?”. O torcedor me olha e me ouve como se eu fosse a própria Bíblia. Começo: “Bem”. Faço um suspense insuportável. Fecho os olhos e pergunto, de mim para mim: “O que é que os estudantes querem?”. Era perfeitamente possível que eles não quisessem nada. Por sorte minha, o jogo ia começar. Enxoto o torcedor fraternalmente: “Vamos assistir ao jogo”. Depois da vitória fui para casa. Quando passamos pelo Aterro, só uma coisa me fascinava, ou seja: a hipótese de que os estudantes franceses estejam lutando por nada. Vejam bem. “Hordas estudantis fazendo uma Revolução Francesa por coisa nenhuma”. (in O Destino de ser Traída. 1993, pg. 240). Carlinhos, outro dia confidenciou-me que admirava Adolf Hitler, não pelas suas atrocidades, mas pelo seu poder de persuasão e ambição territorial. Corre a notícia de que o atual prefeito de Teixeira de Freitas conseguiu reunir um grande número de poderosos empresários, depois de receber mais de duzentos milhões de reais, bem como outros cem milhões para construções de casas populares, deu início a uma chorumela de falta de recursos para evitar que a cidade, depois da chuvarada torrencial, se afastasse da síndrome de queijo suíço, em virtude da quantidade astronômica de buracos que assolaram as ruas. A única solução foi imitar Chico Anysio, “passando a sacolinha”. Ao que parece o Alcaide andou lendo MEIN KAMPF, de Hitler, pois imediatamente todos os presentes atenderam seu reclame e, além de fazerem “asa de buião”, no linguajar do matuto, para significar que enfiaram as mãos nos bolsos, também fizeram uma generosa obladagem, contribuindo com significativos dízimos, alguns beirando os dez mil reais. As profecias de Cassandra ficaram para as Kalendas Gregas. Afinal para que o povo de Teixeira de Freitas elegeu seu prefeito? Que tipo de administração se acaba de instituir na cidade? Seria uma PPP? Ou Nelson Rodrigues estava certo ao perguntar pelo destino da Revolução dos estudantes que lutaram “por coisa nenhuma”? O povo de Teixeira de Freitas, por ser brasileiro, é, como sintetizava a americana do humor: “muito bonzinho”. Pois bovinamente aceita ser considerado microcéfalo, azêmola, ainda aplaude e contribui. Hannah Arendt, in Um Relato Sobre a Banalidade do Mal, mesmo sendo judia, tece, veladamente, sobre a passividade do povo judeu que se deixava levar para os campos de extermínios, sem esboçar qualquer tipo de reação. Fato por demais conhecidos dos brasileiros quando da escravidão. Até quando haveremos de tolerar, suportar, engolir este tipo de humilhação que fere frontalmente a cidadania, a dignidade, apequenando o cidadão, subestimando sua inteligência ao considerá-lo ser inferior, um liliputiano, como eram os judeus tratados e exterminados. Por tais motivos, dos l50 países, pela UNESCO pesquisados, o Brasil alcançou um “HONROSO” 8º lugar em analfabetos idosos. Paul Johnson, in Tempos Modernos: O Mundo dos Anos 20 aos 80, pg. 399, afirma: “o grande flagelo humano do século 20: é o político profissional”. Mas, apesar disso, nem tudo está perdido. Ainda são encontradas pessoas decentes e civilizadas sob o comando do querido MARCELÃO, savoir-faire, sem lampana, no comando de sua súcia de belas garotas, como Jaqueline, no Rondelli Atacado, onde predominam a fidúcia e cordialidade. Bem diferente de outras plagas. Teixeirense é lasso (judeu?) “muito bonzinho!”. “Sapo pula não por boniteza/ Mas porém por precisão”. Guimarães Rosa. Teixeira de Freitas, 31 de janeiro de 2014. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.