A fidúcia do Dr. Fortuna

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Esta semana, ao final do dia, ao passar em frente à Ótica Vison, fui surpreendido com a presença do Dr. Agenildo Fernandes, juiz titular da Vara Crime da Comarca, no seu interior, em animado bate-papo com Dr. Fortunato. Tomei a liberdade, sem convite, de participar da troca de idéias. De volta de uma breve estada nos Estados Unidos, onde gozou das divicias daquele progressista país, Dr. Agenildo perolava sobre os índices de desenvolvimento da nação americana e do seu povo. A conversa desenvolveu sobre tudo, inclusive o Brasil e terminou envolvendo a cidade de Teixeira de Freitas. Foi então que o homem cuidador dos nossos olhos discorreu sobre o desenvolvimento do Brasil que, para ele, que conhece diversos países, inclusive asiáticos, dentro em breve, mais ou menos em vinte e cinco anos, ou um quarto de século, atingiria o estágio atual dos Estados Unidos. Conhecendo o Brasil e seu povo, como conhecemos, é muito otimismo e boa-fé.   Mais uma vez, lembro que o Professor Ax Tourinho disse, certa feita, que somente daqui a duzentos anos o Brasil atingiria o estágio em que os Estados Unidos se encontram atualmente. Relembrei o fato aos distintos doutores, que levaria a tal previsão. Ao Brasil falta educação, respeito, consciência social, dedicação e amor às tradições, sobrando primitivismo. O povo americano tem verdadeiro orgulho pela sua pátria. Em toda parte se encontra uma bandeira americana tremulando no beiral das casas. Em toda parte se encontra as cores de sua bandeira, até as cordas dos ringues de luta estão representadas pelas cores: vermelha, azul e branco. No Brasil se alguém vestir uma camisa das cores de nossa bandeira é imediatamente visto com olhos atravessados. Enquanto a Constituição americana, (única) com apenas sete artigos, já passou de dois séculos, a nossa (uma das muitas que tivemos), ainda não alcançou os sonhados vinte e cinco anos da previsão. Não se faz necessário comparar a evolução norte americana com o nosso passado e muito menos com o presente. Basta se fixar na quantidade de Nobel do irmão do norte, com a falta dele no Brasil. O norte americano já foi premiado em todas as seis categorias: Paz, (13) Física, (83), Química, (56) Medicina, (92) Literatura, (10) Economia, (44). Num grau de aplicação e desenvolvimento tal, como competir? Dr. Agenildo discorreu, impressionado, com tudo que viu. O americano é disciplinado, ordeiro, educado, gentil até. Tudo é muito limpo, organizado. Minha filha morou lá por doze anos, tendo um filho americano. Ao nascer num hospital publico ainda envolto no que restou da placenta, ouviu (?) a leitura dos seus direitos constitucionais, tendo a mãe levado para casa um carnê com autorização para receber fraldas e leite para o menino, durante dois anos. Estudou gratuitamente por todo o tempo em que lá esteve, juntamente com seu irmão brasileiro. Diariamente um veículo os apanhava na porta de casa, pela manhã e somente voltavam ao entardecer. Tudo sem ônus. E as estradas? Ah, as estradas! E as ruas, as avenidas, tudo diferente do queijo suíço que são as estradas brasileiras e as ruas de Teixeira: buraco só. Toda mercadoria adquirida é taxada no ato do pagamento, com o imposto cobrado imediatamente embutido no valor da compra. E o vendedor recolhe sem tossir ou mugir. Onde a igualdade? Onde a perspectiva de nivelar em menos de duzentos anos? Primeiro temos que educar para então colher os frutos. Dr. Agenildo estarrecido e revoltado narrou o fato de uma construção ao lado da antiga agencia do Banco do Brasil, em plena Av. Getulio Vargas, no coração da cidade, acumular o material demolido no meio da rua, atrapalhando o trânsito. Um belo cartão de visitas para quem chega à cidade. Fato igual é visualizado na rua (as ruas não são sinalizadas com placas com os nomes) que liga a Praça da Bíblia ao Shopping, Caixa Econômica, onde o passeio, muito estreito, serve de estacionamento para bicicletas e até uma geladeira. Acorde Dr. Fortunato e coloque mais um ZERO nos seus previsíveis 25 anos! Num país onde se cogita de suprimir determinadas palavras (corriqueiras e consagradas) dos dicionários, pode-se esperar tudo, menos que se desenvolva em pouco tempo. MILAGRES não acontecem. Teixeira de Freitas, 22 de maio de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.