O Brasil continuará ajoelhado aos pés do Tio Sam Imperador e Senhor da Guerra — ou dirá NÃO ao papel de colônia militar do império?
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – 28/10/2025 (Foto: Evelyn Hockstein/Reuters)Por Gustavo Tapioca*
Nixon afundou na guerra às drogas. Bush atolou o mundo na guerra ao terror. Agora Trump tenta ressuscitar dois cadáveres estratégicos — e a ultradireita brasileira, sem dignidade, sem projeto, sem soberania, bate continência e se ajoelha em adoração às vontades do Imperador. O futuro oferecido é um país submisso diante de Washington, preparado para servir de plataforma a guerras que não nos pertencem.
Subserviência mascarada de patriotismo
Governadores e parlamentares repetem o vocabulário imperial: “narcoterroristas”, “guerra total”, “inimigo interno”. Nada disso nasceu aqui. É importado, é copiado, é obedecido. É, em suma, subserviência mascarada de patriotismo.
São Paulo: o centro operacional da submissão
Sob Tarcísio e Derrite, São Paulo se tornou o bunker do autoritarismo importado. Derrite quer reescrever a lei penal conforme as ordens da Casa Branca e o modelo Bukele. Zucco, Malta, Nikolas, os Bolsonaros Flávio e Eduardo e outros parlamentares da extrema-direita peregrinam a Bukele como discípulos fervorosos e estabelecem estreito contato com o presidente de ultradireita de El Salvador. Enquanto a PM paulista opera sob ethos militar-religioso, São Paulo testa o modelo autoritário de Bukele. E mata indiscriminadamente culpados e inocentes.
O Rio como zona de sacrifício
No Rio, Cláudio Castro elevou a doutrina ao nível de política de Estado. A chacina de 121 mortos no Alemão e na Penha foi justificada com o termo imperial: “narcoterroristas”. O mesmo usado para bombardear pequenos barcos venezuelanas e matar pescadores no Caribe.
Aldo Fornazieri, na CartaCapital, afirma:
“Há indícios fortes de que a chacina no Alemão e na Penha foi deliberada para entregar à direita a bandeira da segurança pública. As articulações que Castro fez com governadores bolsonaristas evidenciam a manobra eleitoral.”
O alerta de Fornaziere relembra que a chacina ocorreu justamente quando Lula subia nas pesquisas. A direita precisava de um choque, de um trauma, de um banho de sangue para reposicionar sua narrativa. E executou.
O Congresso ajoelhado
Hugo Motta nomeia Derrite como relator do PL Antifacção na tentativa de inscrever na legislação brasileira o manual militarizado de Trump. É o Estado policial permanente sendo arquitetado no Congresso.
Teologia da guerra santa; messianismo armado; algoritmo do medo. É assim que a extrema-direita brasileira constrói sua máquina de destruição — e sua conexão direta com o projeto imperial da ultradireita global.
Enquanto desloca porta-aviões, submarinos nucleares e navios de guerra para bombardear barcos de pesca e matar — já circula na mídia o número de 80 pescadores mortos no Caribe —, a direita brasileira prepara o ambiente político para servir ao império. É a volta da Doutrina Monroe, agora em português, com operadores locais.
A ofensiva global da ultradireita
Há uma ofensiva coordenada da extrema-direita global. Trump exporta sua doutrina como franquia ideológica. Bukele vira o cardeal punitivista do império. Milei converte a Argentina em laboratório ultraliberal e vassalo econômico dos EUA. A Europa vê neofascismos avançarem. A extrema-direita brasileira se integra a essa estrutura como colônia ideológica — feliz e voluntariamente.
Enquanto o BRICS cresce e o Sul Global se reorganiza para romper com a hegemonia dos EUA, a extrema-direita brasileira faz o contrário: entrega soberania, território e narrativa ao império.
Há um movimento internacional em curso — uma ofensiva coordenada, agressiva e bem financiada da ultradireita global para reorganizar o mundo segundo interesses de Washington, Wall Street e do complexo industrial-militar norte-americano. O Brasil não está fora desse tabuleiro. Pelo contrário: é peça decisiva.
Trump redesenha o tabuleiro e exporta sua doutrina
Desde que reassumiu protagonismo político, Donald Trump opera abertamente para construir uma aliança autoritária global, baseada em violência estatal, demonização de inimigos internos, ataques a imigrantes e adoção de doutrinas militares para “resolver” problemas sociais.
A Doutrina Trump de “narcoterrorismo”, fechamento de fronteiras e militarização está sendo exportada como franquia ideológica para governantes submissos. E dois presidentes tornam-se peças-chave nessa engrenagem.
Bukele: o cardeal punitivista do império
Nayib Bukele é hoje o principal garoto-propaganda de Trump na América Latina. Seu país virou vitrine de mega-presídios, laboratório de exceção jurídica, zona livre de direitos humanos. Bukele não governa El Salvador. Administra um protótipo para exportação.
E a extrema-direita brasileira vai a San Salvador — com dinheiro público de diárias gordas, sorridente como turistas em direção à Disneylândia — aprender com um tutor competente como aprimorar conhecimentos para destruir direitos, normalizar a barbárie, prender, torturar e matar.
Derrite, Zucco, Malta, Nikolas, os Bolsonaros Eduardo e Flávio e outros parlamentares da extrema-direita veem Bukele como inspiração — como se o fracasso humanitário salvadorenho fosse manual de governo.
Milei: o vassalo econômico
Na Argentina, Javier Milei cumpre outro papel: converter uma nação inteira em experimento ultraliberal radical, colapsando o Estado para entregar o país às corporações internacionais via destruição acelerada de serviços públicos, entrega de recursos naturais, submissão irrestrita ao dólar, ataque direto aos direitos sociais.
A política externa de Milei é ainda mais explícita. Ele se coloca como súdito ideológico de Trump, como ponta avançada da ultradireita no Cone sul. E a extrema-direita brasileira vê em Milei o “modelo econômico” complementar ao “modelo policial” de Bukele.
A Europa em chamas: a marcha dos neofascismos
A ofensiva da extrema-direita não se limita às Américas. Na Itália, Meloni reabilita teses autoritárias com verniz nacionalista. Na Hungria, Orbán converte o país em laboratório de democracia iliberal. Na França, a extrema-direita flerta com o poder. Nos EUA, governadores republicanos desafiam abertamente direitos civis.
Tudo isso acontece sob a sombra do trumpismo internacional e de uma doutrina que combina ódio, militarização, xenofobia e perseguição a adversários políticos. A extrema-direita brasileira se integra a esse movimento com entusiasmo de colônia e dedicação sem reservas e sem limites.
Brasil: peça-chave do imperialismo do século XXI
É neste contexto global que a extrema-direita brasileira se entrega inteiramente ao papel de satélite militar, de plataforma de operações, testa de ferro regional e repetidora ideológica da nova Doutrina Trump.
Enquanto China, Índia e países do Sul Global se reorganizam para romper com a hegemonia norte-americana, a extrema-direita brasileira caminha na direção oposta: volta ao século XX, volta ao colonialismo, volta à lógica de tutela estrangeira.
E tudo isso ocorre justamente quando o Brasil recupera protagonismo diplomático, no momento em que Lula recoloca o país no centro do debate climático, o BRICS+ se expande e novas rotas tecnológicas e energéticas surgem fora do eixo EUA–Europa.
Trump sabe que não pode perder o Brasil — nem permitir um segundo mandato forte de Lula 4.0. Por isso, seu exército ideológico latino-americano em geral — e brasileiro, em particular — atua sem disfarces.
A reeleição de Lula e o pânico no gabinete do imperador
As pesquisas apontam para a reeleição no segundo turno. Trump sabe disso — e não aceita. Prefere um Milei, um Bukele ou qualquer “brother” brasileiro disposto a obedecer. A histeria da direita brasileira — que sequer tem candidato indicado para concorrer contra Lula — é reflexo direto desse pânico geopolítico.
Trump tenta ressuscitar duas guerras fracassadas. A extrema-direita brasileira aceita ser seu capataz. O Brasil pode ser arrastado para conflitos que não são nossos.
Uma escolha muito difícil
Mais uma vez, surge a célebre frase — “Uma escolha muito difícil” — título de editorial do jornal O Estado de S. Paulo, publicado em 8 de outubro de 2018, durante a corrida presidencial entre Bolsonaro e Haddad. Dessa vez, envolvendo Lula e um candidato que ninguém sabe ainda quem é. O dilema do Estadão em 2018 pode ressurgir a qualquer momento em forma de pergunta inquietante:
O Brasil continuará ajoelhado aos pés do Tio Sam Imperador e Senhor da Guerra — ou dirá NÃO ao papel de colônia militar do império?
*Gustavo Tapioca é Jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia e MA pela Universidade de Wisconsin-Madison. Ex-diretor de redação do Jornal da Bahia, foi assessor de Comunicação Social da Telebrás, consultor em Comunicação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do (IICA/OEA). Autor de “Meninos do Rio Vermelho”, publicado pela Fundação Casa de Jorge Amado.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.


