A cidade cresceu

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Temóteo queria fazer de Teixeira de Freitas uma verdadeira Pasargada com outra civilização, onde tivesse de tudo. Hoje ao circular pelas suas ruas encontram-se carros com placas dos mais diversos lugares. Realmente é outra civilização. Teixeira de Freitas já foi considerada, naquela época, o maior Povoado do mundo, posto ocupado, posteriormente, depois de sua emancipação, por Eunápolis. Considerando o espaço de tempo decorrido, desde sua emancipação, é um feito extraordinário, estarrecedor, inacreditável. Até princípio da década de 80, no Povoado o comércio local era igual a cantiga de grilo, ou seja, direto, sem intervalos, sem descansos, sete dias por semana, trinta dias por mês, cinquenta e duas semanas por ano, trezentos e sessenta e cinco dias. Bem perto da jornada de trabalho dos anos que antecederam a revolução industrial na Inglaterra. Em 1976, ao chegar aqui, alertei Temóteo do perigo que Teixeira estava correndo, caso se instalasse uma Junta do Trabalho por estas bandas. Pois poderia quebrar todos os comerciantes, uma vez que a Justiça do Trabalho somente beneficia o trabalhador, ainda que falso. Argumentava ele que o Povoado precisava de incentivo para crescer. É costume arraigado em todo o território brasileiro que as feiras livres deverão acontecer sempre aos sábados. Em Teixeira ela acontecia aos domingos. Qual o motivo da mudança de hábito? Simples. Segundo entendimentos dos feirantes, estando a feira de Teixeira aos domingos, todos para lá deveriam se dirigir. Vinham de todos os lugares. Lembro-me de um fato nefasto que aconteceu no Posto Fiscal localizado no distrito de Argolo, município de Nova Viçosa. Um feirante de Nanuque foi abordado por um fiscal conhecido por Cabeleira, que depois de vistoriar o seu caminhão, constatou que o mesmo transportava mercadoria contrabandeada, desacompanhada de qualquer Nota Fiscal. Entraram em luta corporal, depois de um breve desentendimento, sendo que o fiscal o matou com um tiro. Orlando Moraes era o Inspetor Fiscal, que preocupado com o acontecimento, chamou-me para ir até Argolo. Era noite, chegando lá constatamos que o mesmo havia se evadido para Vitória depois de atingir mortalmente o feirante. Poucas pessoas têm paixão, apego, por algum lugar. Antônio Carlos Magalhães era apaixonado pela Bahia e por ela daria a vida. Teixeira deve muito a ele. Sobretudo depois que ele, como governador, extinguiu as Coletorias estaduais, centralizando tudo aqui e inclusive trazendo o Banco Econômico de Nanuque. Com isso todo o movimento financeiro da região passou para o Povoado, o que muito o fez crescer. Esta era a intenção de Temóteo. Conta Heródoto, o pai da História, que Zópiro, sátrapa persa, para demonstrar sua fidelidade a Dario, rei da Pérsia, cortou o nariz, as orelhas e convenceu os babilônios que Dario lhe infligira tão cruel tratamento. Depois de assim lhes inspirar confiança, abriu as portas da cidade, que se encontrava sitiada, para as tropas persas, que venceram a batalha. Provavelmente, Temóteo se deixaria supliciar de igual modo em favor de Teixeira de Freitas, disso não tenho dúvidas, tanto o seu apego e carinho demonstrados por ela, tal qual Antônio Carlos Magalhães, muito lhe deve. Pois foi graças ao seu denodo, perseverança, persistência e muita luta, viu pago o seu esforço, como versejou Bilac, acicatando todos para amar a terra em que nasceram, ficando feliz e enriquecendo. Poucos sabem que o asfalto que liga a cidade à BR 101, foi esforço dele junto ao então Ministro dos Transportes Mário Andreazza, quando inspecionava a estrada em construção, em 1971, cujo encontro se deu no restaurante GATO QUE RIR, (assim mesmo no infinito, idéia de Solon, seu proprietário), localizado na margem da estrada, hoje ponto de escala da Viação São Geraldo. Salve Teixeira de Freitas e seu povo empreendedor. Quem foi Naninha! Em 26 de junho de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.