A CIA falhou fragorosamente; mas, tal derrota sinaliza, simplesmente, que a Casa Branca preparará novo golpe

O presidente dos EUA, Donald Trump (Partido Republicano), em evento no Salão Oval da Casa Branca 6 de novembro de 2025 (Foto: Jonathan Ernst/Reuters)
Por César Fonseca*
É muita ingenuidade achar que o telefonema do presidente Donald Trump para o ex-presidente Bolsonaro, na véspera da prisão do líder fascista golpista tupiniquim, pelo ministro Alexandre de Moraes, por ter tentado detonar tornozeleira com ferro de solda, tenha sido uma coincidência; o presidente americano, derrotado por Lula no tarifaço, tentou fincar uma vitória heróica, em lance salvacionista quanto ao seu aliado bolsonarista; se conseguisse isso, ganharia as manchetes de forma estridente, caso Bolsonaro escapasse para a embaixada americana com a ajuda da CIA; Trump entrou de cabeça nessa tentativa de criar fato político internacional, tirando das mãos daquele que considera um carrasco, Alexandre de Moraes, seu amigo que seria adjetivado de herói; a mídia americana e a tupiniquim, bem com a mundial em geral, destacaria a aventura, tipo daquelas filmadas por Roliúde, na qual o império resgata seus amigos das mãos dos inimigos selvagens “na capital do Brasil, Buenos Aires…”
O ferro de solda em brasa que Bolsonaro utilizou, por pura curiosidade, como disse, certamente, com cálculo para não se queimar, não foi suficiente para fazer o serviço com competência; pura borrasca; a marca do crime ficou no objeto do sujeito que revelou sua criminalidade e justificou sua prisão perante a opinião pública; as interconexões dos sinais eletrônicos, contidos na tornozeleira, despertou a polícia federal, que agiu, rapidamente, e segurou o elemento, impedindo que ele fizesse o que, com certeza, tinha em mente: alcançar a embaixada americana; caso tivesse sucesso, como teria acertado com Trump, no telefonema fatídico, seria recebido em Washington como triunfo político do império, para agitar o Brasil, na sucessão presidencial de 2026; o problema é que a inteligência americana, a CIA, que, outrora, no Brasil, tinha seu endereço nas próprias dependências da Polícia Federal, desde final da ditadura militar, falhou.
Qual foi a falha? Esse é assunto para o futuro; o fato, porém, no presente, é que os Estados Unidos, no terceiro governo Lula, deixaram de ter influência decisiva em instituições republicanas brasileiras fundamentais, a começar pelo Supremo Tribunal Federal; as chances de acontecer o que aconteceu na sucessão de 2018, em que o Exército, sob comando do general Villas Boas Correia, aliado da Casa Branca, deixaram de existir; em sua posse, em 2019, Bolsonaro chegou a dizer que devia sua chegada ao poder graças a ação do general; e o que o general fez naquela ocasião? Todos sabem: pressionou o STF a não conceder, em 2018, habeas corpus para Lula, que fora preso, na armação da Operação Lava jato, autorização para disputar eleição presidencial; sem esse instrumento institucional, que vigora nas democracias, Lula continuou na cadeia; ficou, portanto, mais fácil para Bolsonaro disputar com o candidato lulista, o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad; Haddad não teve fôlego, visto que Lula não poderia atuar de forma decisiva, como havia feito para garantir a vitória de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014.
Orientado por Washington, que na ocasião tinha Trump no poder(2017-2021), fazendo pressão por Bolsonaro, o general golpista Villas Boas não teve dificuldade de dobrar o STF, que se rendeu às tramoias da Lava Jato, amplamente, apoiada pela CIA; de 2022, com Lula no poder, para terceiro mandato, o comportamento do STF mudaria; a Suprema Corte garantiu a Lula a disputa eleitoral, ao rechaçar tentativa de golpe bolsonarista, então condenado pelo ex-presidente americano democrata Joe Biden.
ERA BIDEN SEGUROU GOLPISTAS
Os militares golpistas, agora, em 2025, que tiveram amplo apoio de Trump em seu primeiro mandato(2017-2021), para garantir a exorbitância pela quartelada tupiniquim pro-bolsonarista, não tiveram, sob Biden(2021-2025), aliado de Lula, as chances de emplacar o golpe de 2023; com Lula, no poder, apoiado pela Casa Branca, as chances de quartelada, com apoio do Partido Democrata, ao qual o PT é ligado, arrefeceram-se; por essa razão, os militares não embarcaram na aventura golpista bolsonarista de 2022/23, e os que tentaram o golpe não tiveram apoio do alto comando, monitorado por Biden/Pentágono, estando com as horas contadas para ir ao xilindró.
Dessa forma, a CIA não teve, durante o governo Lula, a liberdade de movimentos que teve, durante o bolsonarismo fascista(2018-2022), quando fazia e acontecia, interferindo nas ações judiciais e policiais, para alcançar vitórias a seu favor, a fim de beneficiar as manobras do governo americano; Trump tenta desastradamente fortalecer seu filhote ideológico fascista, Jair Messias Bolsonaro, mas atuou contra ele o atual tempo histórico; a PF, sob orientação do STF/Alexandre de Moraes(sob ataque da lei americana Magnitsky), no Governo Lula, interrompeu a fuga de Bolsonaro, na tentativa desesperada de alcançar a embaixada americana na última sexta-feira.
Portanto, Trump leva a segunda derrota para Lula: no tarifaço, teve que voltar atrás, porque sem produtos alimentícios brasileiros exportados para os Estados Unidos, a inflação americana aumenta e a população chia, afetando a popularidade trumpista nas pesquisas; agora, na tentativa derradeira de salvar Bolsonaro e derrotar o presidente brasileiro de esquerda, cotado para vencer seu quarto mandato, em 2026, segundo pesquisas de opinião, Trump sofre outro revés; a CIA falhou fragorosamente; mas, tal derrota sinaliza, simplesmente, que a Casa Branca preparará novo golpe contra a esquerda em 2026, comandada por Lula.
Por César Fonseca / Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.


