Os atos golpistas e violentos praticados bolsonaristas em Brasília foram o início de golpe de Estado. A avaliação é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acredita que os ataques aos prédios do Congresso, do Palácio do Planalto e do STF (Supremo Tribunal Federal) foram consequência de ordens e orientações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Fiquei com a impressão de que (os ataques do dia 8 de janeiro) era um começo de golpe. De que aquelas pessoas estavam acatando ordem, orientação do Bolsonaro e fazendo o que Bolsonaro sempre pediu. Ele (Bolsonaro) falou muito tempo em invadir a Suprema Corte, falou por muitas vezes do povo se armar”, afirmou Lula, em entrevista à GloboNews.
Lula apontou ainda que as ações de Bolsonaro tomadas após a derrota nas eleições presidenciais de 2022 indicavam que o ex-presidente tinha conhecimento dos planos de uma possível tentativa de golpe de estado.
O ex-presidente decidiu se calar. Desde o fim do segundo turno, Bolsonaro assumiu uma postura reclusa e muito diferente da que teve durante seus quatro anos de governo.
Evitou aparições públicas, fez poucos pronunciamentos para apoiadores, abandonou as tradicionais transmissões lives nas redes sociais e, até agora, não reconheceu a vitória de Lula.
No fim de dezembro, o ex-presidente decidiu ir para Miami, nos Estados Unidos, onde segue enclausurado. A cerimônia de posse de Lula, no dia 1º de janeiro, ocorreu sem a simbólica troca da faixa presidencial, quando o presidente que deixa o cargo passa o item ao presidente eleito e diplomado.
“Essa decisão dele ficar quieto, de não passar a faixa, de fugir para Miami como se estivesse com medo de algo, me dá a impressão de que ele sabia (dos planos dos atos). Talvez ele estivesse pensando em voltar para o Brasil na glória de um golpe de estado”, completa Lula.
Punição a Bolsonaro e responsabilidade de Anderson Torres
Na semana passada, Bolsonaro e os atos golpistas ganharam a 1ª conexão oficial. O ex-presidente é investigado como um dos incentivadores ou autores intelectuais dos ataques de 8 de janeiro.
O pedido de investigação partiu da PGR (Procuradoria-Geral da República) e foi acatado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na noite desta sexta-feira (13).
A invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes teve como consequência a prisão de centenas de pessoas, o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), além da prisão do ex-ministro de Bolsonaro Anderson Torres e do ex-comandante da Polícia Militar do DF, Fabio Augusto Vieira.
Entenda aqui como Bolsonaro será investigado por ataques golpistas.
Lula também apontou Torres como responsável, e afirmou que o ex-secretário de Segurança Pública do DF tinha conhecimento da intenção dos ataques e permitiu que acontecessem.
Na véspera do 8 de janeiro, Torres embarcou para os Estados Unidos, na mesma região onde Bolsonaro estava. Ele só retornou ao Brasil após sua ordem de prisão e desde então encontra-se detido uma cela no 4º Batalhão da Polícia Militar, no Guará (DF).
Nesse intervalo, a PF (Polícia Federal) encontrou em sua casa uma minuta de um decreto que estabelecia um golpe de Estado ao instaurar um Estado de Defesa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Torres prestou depoimento à PF nesta quarta (18), mas optou por ficar em silêncio. O ex-ministro de Bolsonaro chegou sem seu celular ao Brasil.
“Anderson Torres sabia o que iria acontecer. Foi embora e deixou o celular lá”, disse Lula na entrevista.
Segundo o presidente, os setores de inteligência dos órgãos falharam ao não comunicar ao presidente os indícios violentos que se acirravam nos dias anteriores aos ataques.
“Saí para Araraquara (no interior de São Paulo) com a informação de 150 pessoas no acampamento em Brasília, que não iria ter mais ônibus. Se eu tivesse a notícia de 8 mil pessoas em Brasília, nem teria saído”.
Apesar disso, o petista não considera Bolsonaro como uma “carta fora do baralho”.
“Se Bolsonaro é carta fora do baralho, vai depender das investigações. Há muitas provocações dele, vai ter muito processo contra ele. Vai depender da Justiça. Eu não considero ninguém carta fora do baralho. Muita gente me considerava e agora eu sou presidente”.
Caso haja alguma comprovação direta de participação de Bolsonaro na trama dos atos, Lula trabalha inclusive com a possibilidade do ex-presidente ficar impossibilitado de concorrer nas eleições de 2024 ou 2026.
“Se ele tiver participação direta no que aconteceu, tem que ser punido. Se ele for punido, tem que ser inelegível. E isso vale para ele, para mim ou para qualquer pessoa”.
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Desde então, cerca de 1.500 envolvidos no episódio já foram presos. Por João Conrado Kneipp / Yahoo Notícias