Com prazo apertado até o fim da semana e inquérito da PF em curso, Daniel Vorcaro corre contra o tempo para evitar intervenção no banco fundado há cinco anos
O Banco Central do Brasil (BC) está em postura de observação cautelosa em relação ao Banco Master, uma das instituições financeiras que mais cresceram nos últimos anos sob o comando do empresário mineiro Daniel Vorcaro. Segundo apurações do Estadão/Broadcast, a cúpula do regulador aguarda uma tentativa concreta da instituição de obter liquidez antes de deliberar sobre qualquer regime de resolução, como intervenção ou liquidação extrajudicial.
Pessoas próximas ao processo revelam que Vorcaro, presidente e fundador do banco, intensificou negociações para vender ativos estratégicos, incluindo o Will Bank – fintech digital adquirida pelo Master em 2024 e considerada um dos poucos pontos positivos em meio à crise. O prazo é exíguo: até o fim desta semana, o executivo precisa apresentar propostas viáveis às autoridades para ganhar sobrevida.
O Banco Master, que surgiu como Banco Máxima em 1974 e adotou o nome atual em 2021 após reestruturações lideradas por Vorcaro, enfrentou um ano turbulento. Fundado há pouco mais de cinco anos na configuração atual, o banco expandiu rapidamente com emissões agressivas de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), atraindo investidores com rendimentos acima da média do mercado.
No entanto, essa estratégia o expôs a ativos de alto risco, culminando em um empréstimo de R$ 4 bilhões concedido pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) em maio de 2025, com vencimento iminente. O fundo, que em junho de 2025 detinha R$ 121 bilhões em reservas, poderia ver metade de seu patrimônio consumido em uma eventual liquidação do Master – estimativas baseadas em dados de abril apontam para mais de R$ 50 bilhões em CDBs emitidos, muitos protegidos pelo limite de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.
A rejeição pelo BC, em setembro de 2025, de um acordo para a compra de parte do Master pelo Banco de Brasília (BRB) – avaliado inicialmente em R$ 2 bilhões e que daria ao estatal 58% do controle – acelerou as preocupações no mercado. A transação, vista como uma operação de salvamento influenciada por laços políticos de Vorcaro com figuras do Centrão e do governo do Distrito Federal, foi barrada por irregularidades na estrutura de ativos e riscos à estabilidade financeira. “O perfil agressivo do Master colocava a seriedade do BC em risco”, conforme análise de fontes do mercado citadas pelo O Globo.
Desde então, o cenário ganhou contornos criminais: a Polícia Federal (PF) abriu inquérito no final de setembro de 2025, com base em informações repassadas pelo BC ao Ministério Público Federal (MPF), para investigar suspeitas de crimes na gestão do banco, incluindo possíveis fraudes em investimentos e emissões de títulos. As investigações, sob sigilo e em fase preliminar, ainda não envolveram depoimentos.
Vorcaro, que assumiu o controle em 2018 e possui MBA pelo IBMEC, tem histórico de conexões amplas em Brasília, de ministros do governo Lula a aliados de Bolsonaro, como o ex-presidente do PP, Ciro Nogueira, e o governador do DF, Ibaneis Rocha. Ele também é conselheiro da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Atlético-MG e sócio de fundos de private equity da XP.
Apesar disso, o Master acumula controvérsias: a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) identificou indícios de aportes de R$ 2,1 bilhões em empresas ligadas à família Vorcaro, incluindo R$ 1,2 bilhão em firmas vinculadas à irmã do banqueiro, Natália Vorcaro. Há ainda uma disputa judicial por comissão de R$ 18 milhões na venda de uma casa de R$ 300 milhões em Trancoso (BA), que se soma às pressões pessoais sobre o executivo.
No mercado, a expectativa de uma intervenção ou liquidação cresceu nos últimos dias, mas indícios de ação imediata enfraqueceram. Pelo regimento interno do BC, cabe ao diretor de Fiscalização, Ailton Aquino, submeter propostas de resolução à diretoria colegiada. Aquino está em Luanda, Angola, participando de um encontro de supervisão bancária de países lusófonos, com retorno previsto apenas para quinta-feira, 2 de outubro.
Outros diretores também estão em compromissos internacionais: o de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes, segue para a Austrália em evento do Banco de Compensações Internacionais (BIS); o de Regulação, Gilneu Vivan, desloca-se da Suíça para Cabo Verde; e o de Política Econômica, Diogo Guillen, viaja ao México. Essa agenda fragmentada adia decisões, dando fôlego ao Master para explorar saídas de mercado, como a venda fatiada de ativos – uma opção não descartada por analistas da MZM Wealth e Fitch Ratings, que rebaixou o rating do banco de B+ para B- em setembro.
Uma intervenção congelaria temporariamente resgates de CDBs, enquanto uma liquidação acionaria o FGC para ressarcir depositantes elegíveis, mas valores acima de R$ 250 mil integrariam a massa falida, com pagamentos priorizando créditos trabalhistas e tributários. Empresas como Oncoclínicas, Metalfrio e o fundo de pensão Rioprevidência, com títulos do Master em balanços, enfrentam o “limbo” de incertezas, conforme reportado pela Bloomberg Línea. Investidores tentam negociar CDBs no secundário via plataformas como XP, com taxas subindo para IPCA + 45% em alguns vencimentos de outubro. O Conselho Monetário Nacional (CMN), presidido por Fernando Haddad, já apertou regras do FGC em agosto de 2025, em resposta ao caso Master, para inibir captações agressivas e reduzir o risco moral no setor.
Procurado pelo Estadão/Broadcast, o Banco Master não comentou o assunto. Em nota anterior ao Valor Econômico, a instituição afirmou que investimentos questionados pela CVM foram quitados integralmente. O episódio reforça debates sobre regulação bancária no Brasil, onde o crescimento acelerado de médio porte pode gerar instabilidade sistêmica – os ativos do Master representavam até 40% da liquidez do FGC em picos recentes. Por Alan.Alex / Painel Político