“Trabalha igual burro e não ganha dinheiro”

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Para começar a comemorar as propostas do novo Presidente da República, o temeroso Michel, tive que ‘ressuscitar’ um editorial antigo sobre o trabalhador brasileiro. Talvez, para os patrões, haja vantagem na mudança, que, se aprovada, elevará de 8 para 12 horas a jornada diária de trabalho.
O salário seguirá o mínimo, meus caros. Sempre abaixo da inflação. Continuaremos fazendo mágica para ir ao supermercado, realizar compras de vestiário, farmácia, gás e, também, o lazer e a educação seguirão com pouco – ou nenhum – investimento por nossa parte, porque num sobra, né!?
Na verdade, até o empregador deveria reclamar, afinal, que qualidade de serviço oferecerá a maioria dos funcionários diante de mais horas de trabalho? Esquecem a rotina exaustiva do trabalhador brasileiro. Vamos relembrar com o editorial, que, mais uma vez, tornou-se atemporal.
Em 1.º de maio é o Dia do Trabalhador, data criada em decorrência a um fato ocorrido em 1886, quando realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, nos Estados Unidos da América, que tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias, com a participação de muitas pessoas. É interessante citar que, embora, o marco da criação da data seja este fato, o principal país, até hoje, se recusa a reconhecer esta como sendo o Dia do Trabalhador, sendo ela comemorada na primeira segunda-feira de setembro – o Labour Day. No entanto, as reivindicações dos trabalhadores foram ouvidas e a jornada de trabalho reduzida de 16 para 8 horas diárias.
Desde então, em todo o mundo, os trabalhadores vêm travando ferrenha luta em prol de melhores condições de trabalho, salários dignos, valorização da mão de obra e respeito aos direitos trabalhistas. Aqui no Brasil, no dia, comemora-se ainda a criação da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, em 1 de maio de 1943, que ampara o trabalhador brasileiro no que tange a regulamentação das relações individuais e coletivas do trabalho.
Porém, ainda se verifica em regiões do país muito desrespeito a classe, trabalhadores que encaram longas jornadas de trabalho, em condições desumanas, na total ilegalidade, muitas vezes, com direito somente a alimentação e, quiçá, um alojamento sem nenhuma higiene para ficar – isso falando dos casos que vez ou outra ganham destaque nos jornais; sem contar os muitos que nem sabemos ou os milhões de brasileiros assalariados, que sustentam o país, mas, vivem sempre nas estatísticas da violência, da doença e da fome, infelizmente. E é para estes e todos os demais trabalhadores brasileiros que deixo aqui nossa homenagem. Uma música de autoria do Seu Jorge, cujo título já foi, intencionalmente, citado várias vezes ao longo deste texto: “Está na luta, no corre-corre, no dia-a-dia/ Marmita é fria, mas se precisa ir trabalhar/ Essa rotina em toda firma começa às sete da manhã/ Patrão reclama e manda embora quem atrasar/ Trabalhador/ Trabalhador brasileiro/ Dentista, frentista, polícia, bombeiro/ Trabalhador brasileiro/ Tem gari por aí que é formado engenheiro/ Trabalhador brasileiro/ Trabalhador/ E sem dinheiro vai dar um jeito/ Vai pro serviço/ É compromisso, vai ter problema se ele faltar/ Salário é pouco, não dá pra nada /Desempregado também não dá/ E desse jeito a vida segue sem melhora/ Trabalhador/ Trabalhador brasileiro/ Garçom, garçonete, jurista, pedreiro/ Trabalhador brasileiro/ Trabalha igual burro e não ganha dinheiro/ Trabalhador brasileiro/ Trabalhador”.