Revolucionários ou burgueses?

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Clóvis Rossi, com acuidade, sintetizou a opinião de dois acadêmicos internacionalmente reconhecidos (Folha de S. Paulo de 14.07.13, p. A13) sobre os protestos massivos no Brasil e no mundo. São eles: o esloveno Slavoj Zizek e o cientista político Francis Fukuyama, que se tornou mundialmente conhecido ao decretar, logo após a queda do muro de Berlim, em 1989, “o fim da história” (ou seja: a vitória do modelo de democracia liberal capitalista dos EUA).

Segue a síntese do jornalista: “Para Zizek, os protestos são anticapitalistas. São todos reações a facetas diferentes da globalização capitalista. A tendência geral do capitalismo global de hoje é no sentido de uma expansão ainda maior do império do mercado, combinada com o progressivo fechamento do espaço público, a redução dos serviços (saúde, educação, cultura) e uma gestão sempre mais autoritária do poder político (…) as manifestações são uma tomada de consciência de que a forma atual da democracia representativa não é suficiente para combater os excessos do capitalismo e, portanto, a democracia deve ser reinventada”. De acordo com essa visão, estaríamos diante de uma revolução.

Para Fukuyama não há nenhuma revolução em curso, sim, “fermentos”: “O elemento em comum nas recentes desordens na Turquia e no Brasil, como também na Primavera Árabe de 2011 e nos contínuos protestos na China, é a ascensão de uma nova classe média global. Onde quer que se tenha afirmado, esta classe média provocou fermentos políticos, mas quase nunca tem sido capaz de determinar por si só mudanças duradouras”. Não se trataria de manifestações anticapitalistas. Os manifestantes são burgueses que reclamam não só segurança para a própria família, mas também liberdade de escolha e mais oportunidades.

De acordo com nossa opinião os protestos massivos de junho nem são revolucionários (contra o capitalismo como sistema) nem são burgueses (defensores do sucesso do capitalismo neoliberal norte-americano). Nem uma coisa, nem outra. Não dão razão para o Frei Betto, que numa entrevista para a Rádio CBN (15.06.13) abominou o sistema capitalista, nem tampouco a Maílson da Nóbrega (Veja de 10.07.13, p. 20), que o defende com unhas e dentes, concluindo que “hoje a pobreza se concentra nos países que não construíram as instituições propícias ao florescimento do capitalismo”, o que não é verdade (a Europa inteira favoreceu o atual modelo exagerado de capitalismo e hoje está amargando, sobretudo Portugal, Espanha, Grécia etc., uma grande miséria, desemprego sistêmico, perda ostensiva na qualidade de vida etc.; os EUA promoveram as condições para o excessivo capitalismo atual e só colhe desigualdades – veja Stiglitz, El precio de la desigualdad).

O capitalismo melhorou a condição de vida da humanidade nos últimos três séculos, mas não é verdade que as instituições estão sabendo controlar os seus excessos (salvo se isso significa a intervenção do Estado e do seu dinheiro para cobrir os rombos e roubos gerados por esses desvios, como ocorreu na crise de 2008 nos EUA).

Que são os manifestantes de junho? São, simplesmente, indignados (maltratados, humilhados, irados). Com o quê? Com tudo (e todos) que está (estão) aí. São contra o Estado ineficiente, a corrupção (que é a causa dos políticos fisiologistas, que fazem o loteamento do Estado), o mau-caratismo, o consumismo materialista excessivo e a política socioeconômica injusta e desigual. *Luiz Flávio Gomes, jurista e coeditor do portal atualidades do direito. Estou no [email protected].