Por uma nova escola

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roberio-sulzQue tal uma nova escola sem a imposição de um ano letivo, nem semestre, tampouco trimestre letivo? Esses compulsórios espaços de tempo para aprender-se alguma coisa.
Uma escola sem reprovação, sem sala de aula e sem ter que apresentar atestado médico – falso ou verdadeiro – quando não puder comparecer?
Uma escola diferente, onde não se é obrigado a acompanhar o mesmo ritmo, a mesma velocidade, de aprendizagem dos outros?
Um lugar que respeite o jeito próprio e diferenciado de se aprender e também se permita ser criativo?
Que tal uma escola onde não se estimule a competição, mas se tenha a colaboração como elevado valor moral?
Uma escola onde o professor é parceiro colaborador e não um algoz reprovador?
Uma escola onde o conteúdo aprendido se dá pelo resultado de experiências, das discussões entre colegas, da convivência com gente comum da comunidade, de exercícios artísticos e de contatos com a natureza?
Um lugar de cores e atmosfera agradável, confortável, alegre, atraente e repleto de amplos e verdadeiros espaços de aprendizagem: salas de discussão, laboratórios, jardins, bibliotecas temáticas, salas de consulta digital, salas de produção e expressão artística e corporal, ambientes para mostra e intercâmbio de ideias, bem como facilidades instrumentais e operacionais para o envolvimento comunitário e difusão de conhecimentos (rádio, circuito interno de TV, impressoras etc.).
Essa escola, aparentemente utópica, pode existir e, em parte, já existiu como experiência educacional no Distrito Federal.
O modelo tem como origem o processo de aprendizagem em ritmo próprio, proposto por Burrhus Frederic Skinner e Fred Simmons Keller e, por eles, experimentado no curso de Física Básica da Universidade de Brasília.
Em 1970, pelas mãos deste colunista – então professor de Biologia – veio a ser experimentado com alunos do primeiro ano diurno do ensino médio do Centro de Ensino Médio Elefante Branco, da Secretaria de Educação do DF. Aplicava-se, naquela oportunidade, apenas ao segmento “genética”, da disciplina de biologia.
De 1971 a 1974 a experiência – ampliada – ganhou porte de método educacional no Colégio Pré-universitário de Brasília, passando a ser chamada  de APRENDIZAGEM POR AUTOCONTROLE. Cobria todo o ensino  de biologia destinado ao então segundo grau, sem a fragmentação em anos letivos, nem a definição de horários regulares de aulas ou de avaliações. O Departamento de Biologia operava das sete da manhã às dez da noite, aberto ininterruptamente  com laboratório, sala de projeção, ambiente de discussão e serviços de assistência permanente através de professores e monitores. Os resultados obtidos tanto no Centro Elefante Branco como no Colégio Pré-Universitário foram surpreendentemente fantásticos, superando todos os objetivos  quantitativos e qualitativos de aprendizagem e de formação previstos.
Aproveitando a experiência e os resultados positivos obtidos nos cinco anos de aplicação, o método recebeu uma profunda revisão teórica, retoques e aperfeiçoamento continuado por seu autor, podendo, hoje, ser considerado “Sistema de Ensino” completo. Tornou-se aplicável a qualquer função pedagógica, desde cursos de preparação técnica e profissionalizantes de curta, média ou longa duração, até cursos completos de formação acadêmica superior. Também se presta ao ensino à distância e empreitadas especiais como a recuperação de estudantes em diferentes faixas etárias.
O lamentável é que, passados quarenta anos, pouco se aproveitou dessas experiências, dos princípios metodológicos de respeito à liberdade de aprender, da velocidade própria,  do estímulo à criatividade e da difusão comunitária de conhecimentos. As poucas iniciativas registradas nessa linha dão conta de ideias mais distorcidas que aperfeiçoadoras da Aprendizagem por Autocontrole. Por exemplo: a adoção da promoção automática pelo Estado de São Paulo e por outros estados pouco ou nada tem a ver com a Aprendizagem por Autocontrole. Por este método o progresso do aluno através das unidades didáticas se faz pela aferição da aprendizagem demonstrada por variados tipos de expressão e não apenas pela prova escrita. A definição de ciclos, na Aprendizagem por Autocontrole, não é arbitrária nem aleatória. Tem seu contorno baseado na integralidade do tema ou assunto e não “do ano x ao ano y”. Portanto, não tem igual conformidade para qualquer assunto ou disciplina escolar.
Garante-se ao aluno, se for seu desejo, estudar ou aprofundar conhecimento em determinados assuntos, regularmente ausentes ou tratados com certa desimportância nas grades curriculares, como Geografia, História, Comunicação, Política, Filosofia, Religião, Economia Doméstica, Antropologia, Ufologia, Artes Cênicas, Esportes Olímpicos e outros.
Em suma, urge sair do atraso e edificar uma nova escola, adequada aos tempos modernos.
*Roberio Sulz é professor universitário; Biólogo, biomédico (B.Sc.) pela UnB; M.Sc. pela Universidade de Wisconsin, EEUU. [email protected].