O valor do conhecimento

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Antigamente, fazer um curso superior era algo restrito às pessoas de classe alta. Somente as tradicionais famílias mandavam seus filhos para as universidades de Lisboa, por exemplo, como podemos observar quando as professoras de literatura falam um pouco sobre a vida de alguns escritores. Estes, em sua maioria, faziam direito ou medicina em Portugal. Algo comum, já que este país nos colonizou e, mesmo após o que se chamou de independência, continuamos, na prática, dependentes da terra lusitana, sobretudo no que diz respeito à educação.
As consequências disso são sentidas até hoje. Um exemplo claro é a concepção que se tem no Brasil sobre leitura e a função social da mesma. Por consequência, podemos até estender e comentar sobre a visão de educação, o que se objetiva alcançar por meio do conhecimento. Concernente à leitura, graças ao que fora aqui imposto desde 1500, ainda vemos uma prática de leitura alienante, voltada para manutenção do status quo, ou seja, contribuir para que o excluído assim permaneça e o dominador adquira ainda mais poder manipulatório sobre a grande massa discriminada. Em suma, a educação em si atende a essa lógica; na verdade, o que temos são educações específicas destinadas para sujeitos específicos. As educações existem para formar tipos de homens que atendam às exigências do Capitalismo.
É notório que as escolas, responsáveis pela prática citada acima, que, por sua vez, é imposta pelo Estado (lê-se: pessoas da classe alta, pois quem governa de fato é o capital) a cada dia contribui para que os alunos vejam o conhecimento em si como uma porta aberta para ascensão social, aquisição de status. Raramente encontramos um estudante que valorize o ato de estudar como algo necessário para sua formação enquanto ser humano capaz de contribuir com ideias e ações para a melhoria de seu contexto social. A maioria estuda para ter um bom emprego, ganhar dinheiro e ter uma casa e um carro – coisas boas, claro. Porém, tais desejos são bem individuais, não?! Seria mais humano se atrelado a isso existisse a vontade de estudar para transformar a realidade atual e ajudar àqueles que ainda não tiveram acesso à educação.
Talvez, esteja sendo utópica, mas, é triste ver que os interesses são cada dia mais pessoais, egoístas. Pior ainda é constatar o objetivo que leva os alunos atuais aos bancos das universidades: ter um diploma para aumentar o salário. Sabe a consequência disso? Péssimos profissionais ‘vomitados’ diariamente no mercado. E estes atenderão nossos filhos, netos, farão parte, de alguma forma, da vida deles, infelizmente. Esse desejo exacerbado por qualificação financeira, por atender ao mercado, induziu o surgimento de inúmeras faculdades e universidades, muitas pensando apenas no lucro, em ajudar estes “homens-máquinas” a serem mais eficientes. Como diria minha avó, no frigir dos ovos, esses ‘pseudoacadêmicos’, estudantes, aprendem apenas o que é necessário para exercer melhor aquela função que ocupa dentro do mercado de trabalho. Jamais entenderão algo que ultrapasse o saber técnico, sendo incapazes de pensar por si mesmos, o que deveria ser feito com maestria por todo aquele que diz ter adquirido conhecimento. O problema está, creio eu, na própria concepção que se tem atualmente de conhecimento… Pode ser isso…