O preço da omissão

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Começo este texto citando uma das frases mais marcantes da humanidade pós-moderna e atribuída ao líder norte-americano Martin Luther King: “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Justamente isto, estamos pagando um preço muito alto pelo nosso silêncio e pela nossa omissão.
Vivemos a era dos escândalos. Todos os dias, todas as horas, pipocam inúmeros casos nas mais diversas partes do país. E o que vemos é o grito de poucos e o silêncio covarde e omisso de muitos.
Confesso que não consigo nem listar somente os famosos e intermináveis escândalos de repercussão nacional. Desde que me entendo por gente, e já se faz uns bons anos, não me recordo de nenhuma época tema desta natureza não ser assunto de notícias e conversas.
Mas o triste é perceber que em meio a tudo isto reina um silêncio obsequioso de dar arrepios aos moradores dos cemitérios.
Ainda não nos demos conta que da nossa omissão perpetuasse a ciranda da roubalheira; da nossa omissão criamos um quadro de apatia e aceitação de que tudo que acontece é comum, normal; com a nossa omissão permitimos que os sujeitos inescrupulosos continuem agindo com a maior naturalidade; com a nossa omissão colaboramos para que a geração dos nossos filhos e netos se tornem pior do que a nossa; com a nossa omissão aos poucos vamos nos transformando em covardes; com a nossa omissão acabamos nos transfigurando em lobos com pele de cordeirinhos; com a nossa omissão também colaboramos com tudo aquilo que pensamos  estar combatendo; com a nossa omissão enraizamos ainda mais a injustiça; com a nossa omissão colaboramos para a existência de moradores de rua, de milhões de analfabetos, de milhões de pessoas nas filas esperando atendimento médico, colaboramos com o crime, com os bandidos, com todos aqueles que surripiam a dignidade das pessoas.
Nossa sociedade não aguenta mais tanta omissão. O preço que estamos pagando por ela é muito alto. A democracia não é sinônimo de omissão. Ela requer participação, envolvimento, coragem e disposição para a realização das atitudes que realmente precisamos ter.
Se as pessoas que podem “gritar” preferem o “silêncio” então podemos decretar o fim da esperança. Pois se nem elas estão dispostas a lutarem por uma sociedade melhor significa, pelo visto, que não tem mais jeito. Que tudo está acabado e que o vale-tudo movido pela pilantragem tem que continuar e salve-se quem puder.
Só que neste salve-se quem puder não podemos esquecer que um dia, como diria o ditado popular, nosso “calo também pode doer”. E quando este dia chegar, aí já não adianta mais chorar ou tentar recolher o leite derramado. Restará somente o peso da consciência de quem um dia optou pela omissão.
E para finalizar, convido o leitor a acessar as redes sociais e buscar pela letra/vídeo da música de Max Gonzaga, intitulada “Sou Classe Média”. Ela é um retrato fiel do preço que corremos o risco de pagar pela nossa hipócrita omissão. Por Walber Gonçalves de Souza é professor e membro das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni.