O céu ganhou um “doutor de animais”

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Em excelente matéria do Repórter Câmara, da Câmara Municipal de Teixeira de Freitas, vê-se o triste relato do senhor Valdeixo Lisboa, o “Liliu”, pai Felipe Gomes Lisboa, o garotinho de 8 anos, o flautista da igreja Batista Central, o aluno assíduo da Escola Bíblica Dominical (EBD), o menino que jogava dama no recreio e foi capaz de silenciar uma sala do terceiro ano de uma escola que “agora tá faltando. Não é mais 25 [alunos], como era, é 24 agora” e onde “tá tudo muito mais triste” por sua ausência.
Parte da matéria é gravada na sala em que o menino estudava e impressiona o silêncio – quase impossível numa turma do terceiro ano. Não apenas isso, mas, o semblante de tristeza é notório em todos os, agora, 24 coleguinhas que Felipe deixou sem sua alegria. Os trechos entre aspas acima são falas de alguns deles, que, certamente, eram alguns dos mais próximos do pequeno que desde os 5 anos estudava na Escola Municipal Professor Moab Cristal Félix.
Segundo o “Pivete”, como é conhecido o senhor Valmiro Lisboa, tio de Felipe, os menores delinquentes, além de bater na cabeça de Felipe, o agrediram com chutes, porque seu corpinho indefeso “estava todo moído por dentro”. Com revolta aparente nas palavras, ele diz que “a polícia falou que não tem espaço na cadeia, em Salvador também não tem vaga”, evidenciando a mesma preocupação de toda sociedade que sabe da tragédia: a reinserção destes menores em nosso meio. Ele ainda cita o fato de que um deles, num latrocínio também, “matou um idoso há cerca de 120 dias”.
Impossível não chorar, se comover, se arrepiar ao ver o depoimento de “Liliu”, que, naquele triste dia, desejava apenas levar seu filho para almoçar no sítio com os avós, mas, ao invés disso, viu seu pequeno ser covardemente assassinado, sentiu o sangue quente de seu menino, que queria ser “doutor de animais” escorrer sobre suas mãos. Naquele dia, “Liliu” mostrou a força que tem pai e mãe, seres super-herois por excelência, capazes de guardar sua dor no bolso para salvar seus filhos.
E foi assim, com a dor no bolso, que o pai ensanguentado, machucado na cabeça, na face e na alma, pegou seu menino nos braços e foi em busca de ajuda. Ele pensou ter salvado a vida de seu filho, mas, infelizmente, não foi possível. Mas, fique em paz, papai do Felipe, seu menino, de algum modo, soube que naquele momento, seu super-heroi preferido não o abandonaria e lutaria por ele até o fim.
O Super-Liliu, hoje, não menos ferido que naquele dia, clama por justiça, “não quero que matem ninguém, quero apenas justiça”. “Quero que a sociedade saiba que tem dois monstros que esse tal de direitos humanos quer colocar no meio da gente de novo, que tiraram o capacete de uma criança para bater”.
Alegre o céu com sua flauta, Felipe. Aqui está um lugar feio demais para um menino como você, por isso, talvez, quis o Todo-Poderoso levá-lo para cuidar dos animaizinhos do céu, pequeno doutor de animais.