O caso do deputado Jardel (e seus incríveis eleitores)

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Por Percival Puggina*

Os desvios de conduta e as acusações que pesam contra o ex-jogador de futebol Jardel, hoje deputado estadual pelo PSD/RS, trazem à superfície uma questão política mais importante do que o submundo pessoal das drogas, do alcoolismo e da vida libertina com que ele reiteradamente se envolveu.

Jardel recebeu mais de 40 mil sufrágios, ou seja, teve eleitores em número suficiente para lotar a maior parte dos estádios brasileiros. A pergunta que se impõe é esta: os eleitores de Jardel, em vista de sua vida pessoal, votariam nele para presidente do seu clube? Para tesoureiro? Para diretor de futebol? É claro que não! Entretanto, julgaram que ele, entre centenas de outros nomes, era figura certa para ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa e ali deliberar, entre outros temas, sobre finanças públicas, educação, saúde e segurança de todos nós. Jardel tem graves problemas pessoais e merece comiseração. E seus eleitores têm o quê?

Se Jardel deve um pedido de desculpas ao povo gaúcho, e responder na Justiça pelo que fez, seus 41.227 eleitores também precisam ser convocados, em sua consciência cívica, a refletir sobre a precariedade de seus critérios de voto. A inconsciência do eleitor produz deputados como Jardel. E leva o país a governantes como os que conduzem a nação à alarmante realidade destes últimos anos.

*Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no País, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia, e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.