Hipócritas e/ou burros: eis os brasileiros

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Tudo, hoje, é preconceito, sobretudo para quem não lê o texto de forma a buscar estabelecer um diálogo com ele, ler além das palavras, ler o mundo.

Alguém joga um texto nas redes sociais e diz que seu conteúdo é preconceituoso e cita um trecho solto, desprendido do todo, que embasa sua tese. Pronto! Surgem milhões de comentários em apoio à causa.

É bom citar que, quase sempre, essas correntes de compartilhamentos com dizeres “fora, fulano” vêm para desviar o foco de outro suposto escândalo envolvendo declarações homofóbicas, e/ou, racistas (assuntos que sempre estão na moda). É simples. Basta alguém vê em um texto algo que pode ser considerado preconceituoso, pronto. Dá ênfase àquilo e joga no famigerado Facebook, aí os papa-polêmicas, os comenta-tudo, arroz de debates, como queiram chamar, clicam e, de imediato, deixam seus, quase sempre, vagos e toscos comentários na postagem do indignado cidadão.

Acordem, tolinhos! A própria mídia trabalha para isso. Se um assunto em foco desagrada ou prejudica os interesses de gente importante (quem tem dinheiro, que manda, certo?!) logo um caso novo, ideia nova, preconceito antigo vem à tona para deixá-los ocupados com outra coisa. E, agora, não é somente a mídia que faz isso. Sujeitos comuns do Facebook também. O post do momento tem a ver com o deputado pastor (ou, pastor deputado?) Marco Feliciano. O cara escolhido para a Comissão de Direitos Humanos, que no microblog Twitter, em 2011, disse que africanos “descendem de ancestrais amaldiçoados por Noé” e afirmou que gays têm “podridão de sentimentos” que, segundo ele, “levam ao ódio, ao crime e à rejeição”.

Pois é, minha gente. Esse camarada tem tido os holofotes voltados para ele. O que tem de crente (evangélico?! Protestante?! Este último termo seria o correto), sobretudo da Assembleia de Deus (ele é pastor de lá; ao menos é o que consta em seu site oficial e na Wikipédia) defendendo-o é inacreditável! Tudo bem, quanto à declaração sobre os africanos, tem muitos que não sabem interpretar e dizem que o Feliciano foi racista. Bem, ele não cita negros, fala africanos. Outra, de fato, na Bíblia, está o que ele falou, entretanto, não soa muito bem tal afirmação em um país com tantos “negros cotistas”. É, porque aceitam a discriminação em tantas cotas, esquecendo de que a Constituição fala de direitos iguais. Certo. É um país de remendos este. Não resolvendo a segregação, cria-se medidas, segregativas, para apaziguar a situação. A mediocridade brasileira é assustadora. A hipocrisia só pode ser paralisante, haja vista que quanto a isso quase nada é feito.

Antes que me tomem por preconceituosa, não o sou. Apenas penso que se tratando de direitos não deveria haver exceções, elas dão brecha para o erro e à discriminação. Ora, criarão cotas para pobres e boicotarão a entrada de riquinhos de escolas particulares nas universidades federais? NÃO! Então… vemos a segregação em benefício de uma minoria.

Mas, retomando ao Marco, acho um absurdo as pessoas saírem em defesa dele. Ele pode nem ter sido preconceituoso, o problema é que o diferente desagrada, e ele foi. Ao contrário de muitos aí que não aplicam o entendimento do Evangelho, ele aplicou. Se ele deturpou, ou, não, que se acerte com Deus. O outro quis distribuir kit gay e não rendeu tanto ibope! É a mesma coisa. Cada um defendendo sua ideologia. Agora, cá para nós, ele não tem capacidade para ser presidente de nada. É muito burro. Pessoas públicas dando declarações desta, criando inimizades e suscitando críticas. No mínimo, ele é insensato, pois, ainda que certas, erradas, equivocadas suas declarações, o número de gays é alto. Africanos quase não temos, mas, fazer o quê, o povo, que não se diz preconceituoso, entende que negro e africano é a mesma coisa, deve ser a cor da pele, né?! Ah! Não, é porque, de certa forma, é descendente. Hipócritas e/ou burros: eis os brasileiros, ao menos, a grande maioria.