Ex-prefeito Paulo Dapé é um dos que vai a júri acusado de matar radialista

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Quatro tiros silenciaram a voz de Santana, que na época apresentava e dirigia um jornalístico matinal na Rádio Jornal AM de Eunápolis.
Ronaldo Santana começou a trabalhar como office-boy na Rádio Santa Cruz, em Ilhéus, em 1977. Passou depois a operador de áudio e em 1990 mudou-se para Eunápolis, onde trabalhou como operador de transmissor de rádio, junto com a mulher, na Rádio Jacarandá. Substituiu o apresentador de um programa e, em pouco tempo, passou também a fazer reportagens policiais e sobre reclamações da população. Apresentava o programa Ronda Policial, transmitido diariamente às 7h pela Rádio Jornal, e que abordava também fatos políticos, denúncias e desmandos administrativos do chefe do executivo local, à época o ex-prefeito Paulo Dapé, acusado de ser o mandante do crime.
O juiz Otaviano Andrade Sobrinho, então presidente do Tribunal de Júri da Comarca de Eunápolis, determinou para o dia 18 de maio de 2015, às 8h30, o julgamento das quatro pessoas acusadas de envolvimento com a morte do radialista Ronaldo Santana, ocorrida 18 anos antes.
Na época seriam julgados o ex-prefeito de Eunápolis, Paulo Ernesto Ribeiro da Silva, conhecido como Dapé, o bancário Antônio de Oliveira Santos (Toninho da Caixa), Maria José Ferreira de Souza (conhecida como Maria de Sindoiá) e Waldemar Batista de Oliveira (Dudu). Mas em virtude de uma manobra legal da defesa dos acusados, mais uma vez o julgamento terminou adiado.
E na quarta-feira, dia 30 de novembro, foi confirmado que o acusado de encomendar a morte de Ronaldo Santana, o ex-prefeito Paulo Dapé, deverá sentar-se no banco dos réus nesta segunda-feira, dia 5 de dezembro, quando ele e os outros três acusados no crime serão submetidos a julgamento popular.
Relembre o assassinato
Para muitas pessoas que não se lembram do ocorrido, ou para os mais jovens que estão ouvindo falar agora, Ronaldo Santana tinha um programa que começava às 07h, que em 9 de outubro de 1997, ficou vago, já que o radialista sofrera o atentado quando caminhava em direção à Rádio Jornal, acompanhado do seu filho Márcio, sonoplasta do pai na época.
Em depoimento à polícia, Márcio Santana disse que  no momento do crime, não havia muita gente na rua, somente algumas pessoas que chegavam para uma feira existente no local, mas elas estavam dentro de um galpão. Após perceber seu pai caído, o jovem contou que viu um táxi e começou a acenar, pedindo ajuda. Ronaldo Santana foi levado pelo taxista ao hospital ainda com vida, mas morreu horas depois.
O filho de Ronaldo nunca conseguiu descrever com exatidão os homens que calaram seu pai. Disse que a ação dos bandidos foi muito rápida, e tinha de socorrer Ronaldo, que estava caído. Além disso, o homem da moto estava com o capacete, o que dificultou o reconhecimento. Um dia antes de morrer, o radialista havia anunciado que faria uma denúncia sobre tráfico de drogas. Num dos programas, mencionou a existência de traficantes nas escolas, especialmente no colégio Anésia Guimarães, um dos principais de Eunápolis.
As críticas de Ronaldo contra a administração do prefeito Paulo Ernesto Ribeiro da Silva ‘Paulo Dapé’, também eram uma constante em seu programa. Ele não poupava policiais, políticos e moradores da comunidade. Num dos programas, falou da má qualidade da merenda nas escolas da cidade. Seus comentários fizeram com que a então secretária de Educação, Maria de Lourdes Vieira do Nascimento, pedisse direito de resposta na rádio. Em uma sessão especial da Câmara de Vereadores, os dois se enfrentaram. Depois da sessão, o marido da secretária, Tércio Pereira, seguiu Ronaldo de carro e tentou agredi-lo com um pontapé e com palavras. Em 27 de junho de 1997, o radialista fez queixa na Delegacia da Polícia Civil de Eunápolis contra Pereira.
Ronaldo não costumava comentar com a mulher, Manuelina Moura de Araújo, de 42 anos, sobre ameaças recebidas. Embora, nos últimos tempos, ela tenha sentido que o marido andava tenso e preocupado. Na noite anterior ao crime, ele quase não dormiu. Segundo Manuelina, Ronaldo levantou-se pelas 4h. Disse que perdeu o sono. Fez o café e saiu no horário habitual a pé com o filho para o trabalho, quando foi atacado e morto. (Da redação TN).
Os primeiros depoimentos de Lima à polícia
O caso de Ronaldo Santana de Araújo parecia estar solucionado quando, em 10 de novembro de 1998, o ex-policial militar Paulo Sérgio Mendes Lima foi preso em Goiânia por um outro crime – o assassinato de Sebastião Alves Nogueira, ocorrido em 8 de novembro, naquele Estado. Com detalhes impressionantes, na delegacia de Goiânia, Lima descreveu como contratou o assassino que disparou os tiros contra o jornalista Ronaldo Santana.
Lima disse que foi procurado primeiro por um ex-policial, Josivaldo Muniz Lopes, o Lopão. Ele teria lhe avisado que Maria José Ferreira de Souza, conhecida como Maria Sindoiá, funcionária da Prefeitura, queria uma pessoa para fazer um “serviço”: calar Ronaldo Santana a mando do prefeito de Eunápolis, Paulo Dapé.
Lima já conhecia Dapé. Havia trabalhado como segurança em sua distribuidora de alimentos e, depois, como motorista durante sua campanha eleitoral. Revoltado por não ter conseguido nenhum cargo na prefeitura, após a eleição, passou a fazer oposição ao governo municipal.
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Justiça adia mais uma vez julgamento do Caso Ronaldo Santana
O Tribunal do Júri da Comarca de Eunápolis adiou, mais uma vez, o julgamento dos quatro réus acusados da morte do radialista Ronaldo Santana marcado para a segunda-feira (18), no Salão do Júri do Fórum Mário Albiani, no bairro Dinah Borges. O crime aconteceu na manhã de 9 de outubro de 1997, quando a vítima e o filho se dirigiam para o trabalho.
Na presença dos réus: Paulo Ernesto Ribeiro da Silva (Dapé), Antônio de Oliveira Santos (Toninho da Caixa), Maria José Ferreira de Souza (Maria de Sindoiá) e Waldemar Batista de Oliveira (Dudu) e seus advogados (além de algumas testemunhas e membros do Corpo de Jurados), o juiz da Vara do Júri, Otaviano Andrade de Souza Sobrinho, comunicou que o Ministério Público se declarou impossibilitado de atuar na acusação.
Uma nova data foi marcada para o dia 15 de junho próximo. O Ministério Público baiano designou o promotor Davi Gallo Barouh, de Salvador, para atuar no caso depois que os promotores de Eunápolis peticionaram declarando-se suspeitos.
Através de instrumento formal, o promotor João Alves Neto, que acompanha o caso há dezoito anos, se declarou impedido de atuar no júri, por fato apontado por ele como Causa Superveniente (na linguagem jurídica, “ação, ou fato, que se manifesta depois da conduta delituosa, a esta vinculada, e com ela concorre para a produção do resultado”).
Antes de lavrar a ata, o juiz Otaviano Sobrinho procedeu ao sorteio de mais sete jurados suplementares. Os jurados que faltaram na sessão desta segunda-feira não serão multados, por conta do adiamento, já previsto.
O magistrado também estabeleceu algumas regras para assegurar a participação popular. Serão 85 lugares para pessoas da comunidade; seis para a imprensa e cinco para advogados que atuam na comarca. Todos por ordem de inscrição junto à secretaria da Vara do Júri. As inscrições serão aceitas até o dia 11 de junho. Por Redação Radar64.