Autismo

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Por Maurício de Novais Reis*
Parte II – Nesta segunda parte do nosso artigo sobre o autismo, importa afirmar que a palavra “autismo” foi utilizada pela primeira vez por Bleuler, em 1911, para designar a perda de contato com a realidade, acarretando desta maneira uma considerável dificuldade na comunicação. Contudo, Bleuler não se referia ao autismo nos mesmos termos que Kanner, posto que somente em 1943, com a publicação do artigo já mencionado na parte anterior, que surgiram os primeiros diagnósticos de autismo, com a definição das características peculiares do autismo.
Nas últimas seis décadas, muitos esforços têm sido empreendidos no sentido de produzir um diagnóstico e uma terapêutica adequada a autismo. Em 1944, Hans Asperger descreveu casos em que algumas das características do autismo eram encontradas, confundindo-se com as características apresentadas por Kanner pouco tempo antes. Isso possibilitou que outros estudiosos apresentassem casos cujas características demonstrassem alguma similitude. No início da década de 1980, o trabalho de Asperger recebeu demasiada atenção, impulsionando assim o que passou a ser denominado de espectro do autismo. No ano de 1981, Lorna Wing formulou uma expressão mais abrangente para o quadro de autismo infantil – espectro artístico – sugerindo uma variação gradual da patologia incluindo tanto a descrição original de Kanner como a descrição formulada por Asperger.
A Classificação Internacional de Doenças (CID-10) classifica o autismo na categoria dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, onde encontram-se também a Síndrome de Asperger e a Síndrome de Rett, justificando uma diferenciação diagnóstica quanto a intensidade semiológica da manifestação das características apresentadas, conforme descrição formulada por Wing, em 1981. O Manual Diagnóstico e Estatístico das Desordens Mentais (DSM), na sua quarta edição, trazia uma fraseologia semelhante, reforçando a credibilidade da Classificação Internacional de Doenças.
Porém, com a atualização do Manual Diagnóstico e Estatístico das Desordens Mentais (DSM), que acabou ganhando uma quinta edição no ano de 2013, a nomenclatura foi radicalmente alterada, bem como o entendimento acerca da classificação anterior. Essa atualização modificou a designação dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, guarda-chuva sob o qual o autismo e demais transtornos – como a Síndrome de Asperger e a Síndrome de Rett – estavam abrigados, criando a classificação de “Transtornos do Espectro Autista” que resultou de uma espécie de “fusão” dos transtornos vinculados na versão anterior do manual (importa esclarecer que a Classificação Internacional de Doenças em breve ganhará uma revisão, provavelmente encaminhando a mesma alteração do DSM). Por que a mudança? “Porque os sintomas desses transtornos representam um continuum único de prejuízos com intensidades que vão de leve a grave nos domínios de comunicação social e de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de constituir transtornos distintos.”
A nova versão do DSM, porém, não elimina o enigma existente na figura do autista, tampouco explica as idiossincrasias existentes no transtorno do espectro autista. Mas lança luz sobre a reflexão que objetivamos empreender neste artigo, não somente com base no dispositivo inaugurado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais enquanto estatística semiológica, mas também com base no saber psicanalítico acerca do autismo. Continua.
*Maurício de Novais Reis é Psicanalista, Especialista em Teoria Psicanalítica e Professor no Colégio Estadual Democrático Ruy Barbosa.